sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Os deuses são burros e impiedosos


Ergo-me diante dessa multidão eufórica 
Extasiada e ao mesmo tempo confusa 
Querem um sinal dos deuses 
Corta-se, se rasgam e dilaceram-se 
Na esperança fútil de que eles ouvirão 
Os seus gritos. 
Pedem fogo do céu para queimar o altar 
Com o sacrifício. 
Mas, os deuses são burros e impiedosos 
Porque foram criados pelos homens 
Humanamente cretinos como sua cria. 

Quem te ensinou a ver o mundo dessa forma? 
Em todas as sociedades lá estão eles 
Nas tribos mais distantes 
Nos grandes centros em grandes templos 
Pendurados na parede 
Emoldurados em madeira de lei 
Mas, os deuses são burros e impiedosos 
E no silêncio da noite 
Eles também dormem o sono da indiferença. 

Vejo a ignorância por todos os lados 
A ilusão em todos os olhares 
Heresias em cada evangelho hodierno 
E um mundo indivisível 
Cheio de angústia e violência. 
Criaram-se o anticristo e o abraçam 
Nas penumbras e avenidas da cidade 
Mas, os deuses são burros e impiedosos 
Eles arrancam o coração e comem com farinha 
E deixam a alma para ser devorada pelos corvos. 

Os deuses criados pelo ser humano 
São as maiores ilusões 
Que esse mesmo ser humano carrega 
Sem saber que eles são burros e impiedosos. 
Quem poderá julgar-me 
Por tão severas palavras? 
Eles continuam dilacerando-se 
E os seus deuses zombam de sua ignorância. 
Não dão a mínima por tudo que fazem 
Porque, na verdade, eles não existem. 

Poema: Odair José, o Poeta Cacerense

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