sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Elogio à Ignorância



Quem são estes que insistem no conhecimento
Como sendo a razão completa da vida?
Se a vida que vivemos é uma busca incessante
Pela sabedoria em algum lugar escondida.

Clamas nas praças e avenidas
Que o conhecimento é a solução dos problemas
E, quanto mais conhecimento se tem ao longo do tempo,
Mais aumentam nos homens seus dilemas.

Eis que vive em cada esquina e ruas da cidade
Aquela que os abraça com um adoto apertado
Dentro das salas e bancos escolares
Fazendo dos homens um eterno dominado.

Ela está em toda parte e com todos
Legando os seus tentáculos com suave dominação
Provando que o conhecimento não existe
E que ela é a senhora da vida e do coração.

Poema: Odair

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Onde os fracos não têm vez



No caminho silencioso que trilho 
Nas horas sombrias que a vida reserva 
A dor de uma ausência sentida 
De olhos que se foram na escuridão. 
Sonhos que se desfazem 
Nas agruras de dias tenebrosos 
Qual castelo de areia 
Demolido pelas águas do mar. 
Porque chorar pela fuga desenfreada 
De ilusões tão patentes 
Na esperança de dias melhores 
Quando nunca houve dias assim? 
Nas paragens desse caminho 
Sento-me sozinho e triste 
Onde os fracos não têm vez 
De chorar sua desilusão. 
Não se pode recriar fantasia 
De que o pesadelo não é real 
Quando a dor é passageira 
E uma nova aurora surge no horizonte. 
A alma, no entanto, nisso não crê. 
Quando desperta nas noites frias 
Sem sentir o calor daquele corpo 
Que do frio o aquecia. 
Lembranças que fazem doerem 
A sensação do esquecimento 
De olhos marejados 
Que sofriam na prisão. 

Poema: Odair

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Jesus Mendigo



Procuram-me nos templos e igrejas,
Mas nem sempre eu estou por lá,
Na maioria do tempo estou na rua,
Deitado, solitário e desmotivado
Com esse mundo totalmente desregrado.

A maioria dos mortais pensa que irei voltar,
Mas eu já voltei, e sequer fui notado.
Fiz questão de voltar com um aspecto castigado,
E de misturar-me com os enfermos de coração despedaçado.

Os abastados ignoram-me,
Quando não, tratam-me como os dejetos de suas latrinas.
Os pseudosreligiosos passam do meu lado,
Mas não me veem de verdade.
Depois dos mendigos, os únicos serem
Que conseguem notar a minha presença
São as crianças, que sempre me presenteiam com um sorriso.

Já os adultos estão podres,
São vazios por dentro e cheios por fora,
Cheios de si,
Cheios de razão,
Cheios de certezas,
Cheios de pecados,
E consequentemente
Cheios de sofrer,
Pois ainda não aprenderam
A essência do viver.

É tudo tão simples,
Meu pai é simples,
Eu sou simples,
A fé é simples,
O afamado amor é simples,
E a felicidade que tanto buscam é ainda mais simples.
Mas os mortais insistem
Em complicar o singelo,
E depois oram a mim
Como solução,
Como se houvesse razão.

A falta de humildade
Faz com que a humanidade não me veja realmente,
Mas eu estou aí, nas coisas simples,
Do seu lado, deitado na sua porta,
Tomando conta da sua casa,
Querendo a cada dia mais
Reger a sua vida com luz e harmonia,
Basta enxergar-me com verdade,
Basta vestir-se com os trapos da bondade
E despir-se dos finos panos da vaidade.

Não preocupe-se em me achar
Em uma religião,
Retire as poeiras mundanas de sua retina,
Veja que estou diante de ti, e terás o seu galardão.

Não celebre o meu nascimento
Apenas no Natal, chamando-me menino Jesus,
Pois todo dia eu renasço em baixo de uma marquise,
E lá, chamam-me de mendigo Jesus.

Bruno Rico. 

www.sentimentocritico.blogspot.com

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Essa tal liberdade



Hoje estava pensando nessa tal liberdade.
Daí me veio a mente os diversos questionamentos que ouço todos os dias a minha volta.
Um dos mais paradoxal diz respeito ao amor: enquanto uns dizem saber o que é ele outros afirmam, categoricamente, não saber explicá-lo.
Na verdade é difícil expressar algo que não vemos.
As pessoas não entendem o que é estar preso a um sentimento onde, por mais que você não queira, não consegue se livrar.
Liberdade é quando você pode sonhar e realizar aquele sonho.
Mas, daí entra outra questão pertinente: ora, um sonho já se explica automaticamente...sonho é sonho.
O que se realiza não é sonho é realidade.
Pois bem, voltando a liberdade.
Nas encruzilhadas da vida, cansados de tanto caminhar pela longa estrada, de repente nos deparamos com o olhar de uma pessoa que acaba de chegar ali naquele exato momento.
O que eu procuro é a mesma coisa que ela procura.
Não existe palavras, apenas a troca de um olhar e isso é suficiente para desestabilizar todo um planejamento.
A partir daquele momento já não podemos andar mais sozinho, a liberdade se foi...somos prisioneiros.
Que coisa mais complicada.
Acontece que, por passar situações semelhantes, as pessoas querem dar palpites dizendo que sabe o que estamos passando...sabe nada.
Nem a outra pessoa sabe.
Só nós sabemos o que realmente passamos (ou também não sabemos coisa alguma).
A agonia de querer ser livre e fazer o que bem queremos.
Mas não temos nem a liberdade de escolher no que pensar.
Outra coisa fundamental nessa questão é o "pré-julgamento" que os externos fazem da nossa situação.
Observam o nosso semblante e, no ato, dizem saber o que estamos sentindo: "Nossa, você viu o passarinho verde? Está tão feliz!". Ou: "Poxa vida, por quem você está apaixonado?"
Caramba, quem disse que estou apaixonado?
Pode ser que esteja feliz por que passo por um momento bom de minha vida onde consigo escrever o que gosto.
Adoro falar de sentimento...adoro escrever sobre o mundo, sobre as divagações de um coração anelante pelo prazer de ver as letras surgindo como se fossem automáticas... Sim, é isso!
A liberdade que tanto almejo é aquela de poder dizer, sentir e escrever o que quero sem ter que lidar com esse "pré-julgamento" ridículo que prejudica uma alma livre como a minha.
Notaram o paradoxo?
Eu falo de alma livre e questiono a liberdade de expressão.

Poema: Odair